Cada peça é modelada com uma mistura de argilas, porções de terra, torrões e até mesmo aquela fina camada de poeira que por vezes recobre plantas, pedras e calçadas à beira dos caminhos.

A água que utilizo na modelagem é recolhida da chuva, não por uma questão técnica, mas pelo apreço às dúvidas e seus estados incógnitos e poéticos. Gosto de pensar que as peças foram modeladas com essas águas que fizeram seus ciclos e percursos, e, talvez, tenham passado pela Terra do Fogo, atravessado os Andes ou o Atlântico. Então incorporo às peças esse conjunto de transformações, movimentos e distâncias imprecisas, mas que também envolvem a certeza absoluta de que essas águas vieram de longe, se misturando e trazendo consigo um tanto de geleiras, rios, raios, ventos e trovões por onde passaram.

Já a queima das peças é feita direto em fogo e brasa – ao modo de uma fogueira mesmo – , por  isso esse aspecto escurecido, que não é esmalte, verniz ou pigmento, essa cor escura é a fumaça e as partículas diminutas da fogueira que ficaram impregnadas na argila durante a queima. Alimentada com uma mistura de serragem, carvões, folhas e gravetos secos recolhidos nas minhas andanças, essa fogueira costuma durar cerca de 24h, tempo em que me divido entre o cuidado do fogo e o cultivo afeito pelo que é (ou ainda será) visível, entre visível e impossível de ser visto em cada uma das peças.